Quando as cortinas são abertas, a cena se mostra. A arte, organizada no processo, se mostra, exerce sua autonomia. O que provoca, evoca, promove e faz acontecer relaciona-se à experiência e ao sensível que permeou a construção dessa apresentação. Se a arte é uma maneira de ver, compreender, sentir e viver o mundo, seria possível que, assim como a ciência, ela possa ser um modo de pensar sobre o mundo? Como artistas, conhecemos o processo de construção da nossa arte, será que podemos construir investigação por meio deste processo? E sendo das artes, qual o tipo de investigação que emerge? Que tipo de conhecimento há, que permite que a arte estude a si? Essa pesquisa parte das nossas inquietações como grupo, inseridas no ECOAR, a partir de performances vividas com a comunidade. Intitulada: Sobre raízes, caules, folhas, sombras e aconchego: uma investigação baseada nas artes, esta tese teve como objetivo entender e discorrer sobre a Investigação Baseada nas Artes (IBA), como um caminho para incorporar o fazer artístico como lócus de compreensão de epistemologias, problematização de conceitos e elucidação de questões. Minha intenção foi conduzir um projeto de investigação/ação por meio de uma práxis performática fazendo uso da IBA para pensar, refletir, iluminar e discutir sobre ser mulher em nosso país. Me inspirei no conceito de práxis performática de Norman Denzin, nas ações do Teatro do Oprimido de Augusto Boal, assim como na sua proposta de árvore para o desenho da investigação. Entrelaçando minha trajetória com a pesquisa, busquei narrar as construções e processos artísticos compondo o tronco da árvore, idealizando discutir e questionar o uso da IBA como uma forma de investigação que possibilita trazer à tona questões sociais vividas no contexto atual. Na nossa árvore, a experiência artística foi representada pelo fluxo que dá vida a pesquisa, a seiva, e que ocorre na práxis da ação-reflexão-ação. Essas ações foram definidas como os galhos da árvore e ocorreram a partir de duas oficinas corporais propostas para mulheres: "Cartas e corpo" e "Mulheres na Pandemia". No ápice da árvore está a copa, que para Boal simboliza o lugar onde a luz se transforma em alimento, onde a mágica da respiração ocorre. Neste trabalho, a copa simbolizou a performance criada no coletivo, no qual chegamos na essência do fenômeno, com a arte permeando as ações. Dramaturgia, cenário, figurino, música e movimento, uma construção artística coletiva que culminou em uma performance dos "dados", apresentada coletivamente. Das folhas a flor, dando vida ao processo, encontra-se a tese escrita, como um elemento capaz de produzir novas experiências narrativas para a efemeridade do processo artístico. Um trabalho sobre ser artista e mulher na academia, buscando ser coerente com que sou, e com quem somos, um aconchego na sombra da árvore.

When the stage curtains open, the scene shows off. The art, organized in the process, is exposed and exercises its autonomy. What it provokes, evokes, promotes, and realizes, is related to the experience and the sensitiveness that permeated the making of that presentation. If art is a way of seeing, comprehending, feeling, and living the world, would it be possible that, just as science, it could be a way of thinking about the world? As artists, we are aware of the process of making our art. Could we, then, carry out investigations through such a process? And, coming from the arts, what kind of investigation would emerge? What type of knowledge exists that allows art to study itself? This research starts with our unrest as a group inserted at ECOAR. Plus, its starting point was performances carried out with the community. Named On roots, stems, leaves, shadows and cosiness: an arts based research, this thesis objective is to understand and expatiate on Arts Based Research (ABR) as a way to incorporate art-making as a locus for understanding epistemologies, questioning concepts, and clarifying issues. I intended to conduct an investigation/action project through performance praxis using ABR to think, reflect, shed some light, and discuss what being a woman in Brazil means. My inspirations were the performance praxis concept by Norman Denzin and Augusto Boal's Theater of the Oppressed action in addition to his tree proposal for the investigation design. Interweaving my trajectory with the research, I narrated artistic-making and processes to compose the tree trunk, envisioning to discuss and question the use of ABR as a type of investigation that allows current social issues to surface. In our tree, the artistic experience was represented by the flow that gives life to the research, the sap, which occurs in the action-reflection-action praxis. These actions were defined as the tree branches and happened through two body workshops for women, named "Cartas e corpo" e "Mulheres na Pandemia". At the top of the tree, there is the crown, that according to Boal, symbolizes the light that changes into sustenance, where the magic of breathing happens. In this work, the crown represented the collective performance creation. As a result, we arrived at the essence of the phenomena, with art permeating the actions. Playwriting, set, costumes, music, and movement were a collective artistic construction that became "data" performance presented collectively. From leaves to flowers, revealing the process, it is possible to find the written thesis as an element able to produce new narrative experiences for the ephemerality of the artistic process. A research about being an artist and a woman in the academy, seeking to be consistent with who I am, and with who we are, a cosiness feeling in the tree shadow.