O montanhismo representa uma atividade fundamentada nos Serviços Ecossistêmicos Culturais (SEC), que tanto fomenta a aproximação entre sociedade e meio ambiente, como também leva impactos negativos aos ecossistemas. Os SEC representam benefícios intangíveis ao bem-estar individual que também impulsionam as identidades coletivas e a coesão social. A apropriação dos SEC ocorre no montanhismo por meio do uso de trilhas e acampamentos, recorrentemente sob uma perspectiva de compartilhamento de bens comuns (aqueles que possuem rivalidade de uso, mas não apresentam mecanismos de exclusão). Este enquadramento é suscetível à degradação ambiental por uso exacerbado, prevista pela Tragédia dos Comuns. Por outro lado, as identidades coletivas e a coesão social promovidas pelos SEC podem estimular a colaboração entre atores sociais envolvidos no montanhismo em ação coletiva voltada à conservação desses ambientes. Assim, há controvérsia nas Ciências Ambientais a respeito das complexas relações entre o montanhismo e a conservação das áreas naturais de montanha. Nesse sentido, o objetivo dessa tese foi elucidar a relação entre o montanhismo, serviços ecossistêmicos culturais e a governança sobre bens comuns na conservação dos ambientes de montanha. Para alcançá-lo, primeiramente foi realizada no capítulo 2 uma revisão sistemática da literatura em escala global para identificar e caracterizar os impactos positivos e negativos das atividades de montanhismo na conservação de ambientes naturais de montanha. Em seguida, no capítulo 3, foi realizada uma análise, a partir de dados secundários, da trajetória histórica da governança que levou ao caso emblemático de degradação ambiental e de tragédias humanas causadas por sobreexploração das trilhas e acampamentos do Monte Everest. Por fim, no capítulo 4, foi realizado um estudo de caso que identificou e caracterizou os principais elementos que potencializaram o processo de formação de ação coletiva e arranjos institucionais voltados à conservação em ambientes de montanha na Serra da Mantiqueira/Brasil. Os resultados apontam que há ênfase na literatura aos efeitos deletérios do montanhismo sobre os ecossistemas, principalmente em aspectos biofísicos. Por outro lado, parte da literatura reconhece os efeitos positivos, principalmente em relação à sensibilização e mobilização social para conservação. O caso emblemático do Monte Everest, por sua vez, mostra uma trajetória histórica equivocada de governança, tanto estatal quanto privada, que levou a uma Tragédia dos Comuns. Por fim, no estudo empírico, além da sensibilização e mobilização impulsionadas pelo montanhismo e pelos SEC, a ação coletiva para conservação da Serra da Mantiqueira teve substancial influência positiva de estruturas formais de arena já existentes e da nucleação dos grupos sociais mobilizada e articulada por atores-chave. Assim, a tese contribui com a identificação, categorização e elucidação dos efeitos controversos do montanhismo sobre o meio ambiente, mas principalmente destaca o potencial dos processos de estruturação de ação coletiva, fundamentadas e motivadas pelos SEC, na estruturação de arranjos participativos de governança sobre bens comuns em atividades de montanhismo.

Mountaineering represents an activity based on Cultural Ecosystem Services (CES), which not only encourages closer ties between society and the environment, but also brings negative impacts in ecosystems. The CES represent intangible benefits to individual well-being that also boost collective identities and social cohesion. The appropriation of CES occurs in mountaineering through the use of trails and campsites, recurrently from a perspective of sharing common goods (those who own use rivalry, but do not have exclusion mechanisms). This framework is susceptible to environmental degradation due to overuse, predicted by the Tragedy of the Commons. On the other hand, the collective identities and social cohesion promoted by the CES can stimulate collaboration between social actors involved in mountaineering in collective action aimed at the conservation of these environments. Thus, there is controversy in Environmental Sciences regarding the complex relationships between mountaineering and the conservation of natural mountain areas. In this sense, the objective of this thesis was to elucidate the relationship between mountaineering, cultural ecosystem services and governance over common goods in the conservation of mountain environments. To achieve this, a systematic review of the literature on a global scale was first carried out in chapter 2 to identify and characterize the positive and negative impacts of mountaineering activities on the conservation of natural mountain environments. Then, in chapter 3, an analysis was carried out, based on secondary data, of the historical trajectory of governance that led to the emblematic case of environmental degradation and human tragedies caused by overexploitation of trails and campsites on Mount Everest. Finally, in chapter 4, a case study was carried out that identified and characterized the main elements that potentiated the formation process of collective action and institutional arrangements aimed at conservation in mountain environments in Serra da Mantiqueira/Brazil. The results indicate that there is emphasis in the literature on the deleterious effects of mountaineering on ecosystems, mainly in biophysical aspects. On the other hand, part of the literature recognizes the positive effects, mainly in relation to awareness and social mobilization for conservation. The emblematic case of Mount Everest, in turn, shows a mistaken historical trajectory of governance, both state and private, which led to a Tragedy of the Commons. Finally, in the empirical study, in addition to the awareness and mobilization driven by mountaineering and the CES, the collective action for the conservation of Serra da Mantiqueira had a substantial positive influence on the formal structures of the existing arena and on the nucleation of social groups mobilized and articulated by key actors. Thus, the thesis contributes to the identification, categorization, and elucidation of the controversial effects of mountaineering on the environment, but mainly highlights the potential of collective action structuring processes, grounded and motivated by the CES, in structuring participatory arrangements of governance over assets common in mountaineering activities.