Com o objetivo de avaliar os efeitos da substituição parcial de milho por fontes energéticas com diferentes perfis de carboidratos em dietas à base de bagaço de cana tratado a pressão e vapor (BTPV), foi realizado experimento com 4 novilhos fistulados de aproximadamente 2,5 anos e 500 kg de peso vivo, de acordo com o delineamento experimental de quadrado latino, com 4 tratamentos: uma testemunha (Tl), com baixo teor de concentrado (40% da MS) e três dietas com alto concentrado (60%), sendo a fração energética estudada constituída de milho moído (T2), farelo de glúten de milho (T3) e polpa cítrica moída (T4). As dietas foram formuladas de forma que os 3 tratamentos com menor teor de milho (Tl, T3 e T4) continham 20,8% deste ingrediente na MS. O ensaio envolveu avaliação da digestibilidade da MS e seus componentes, pH e amônia ruminal, taxa de passagem e degradação "in situ" do BTPV nos 4 tratamentos e do milho nos tratamentos 1 e 2, farelo de glúten de milho no T3 e polpa cítrica no T4. O aumento do concentrado, independentemente da fonte energética, elevou o consumo de MS em relação ao peso vivo (P<0,05), sendo os valores 1,48; 1,80; 1,83 e 1,72%, respectivamente, para Tl, T2, T3 e T4, e tendeu a elevar a digestibilidade da MS e os nutrientes digestíveis totais (NDT), P=0,12, sendo o NDT médio medido de 59,16; 65,54; 64,24 e 64,23%, respectivamente. A utilização de farelo de glúten ou polpa cítrica em substituição parcial ao milho resultou em manutenção do valor energético das dietas. Com o aumento da proporção de concentrado, não houve efeito (P>0,10) na digestibilidade da fibra em detergente ácido (FDA) e em detergente neutro (FDN), embora os tratamentos T2 e T4, com menor teor de fibra e maior teor de carboidratos não estruturais, tenham proporcionado valores mais baixos. A digestibilidade total do amido apresentou-se dentro da faixa verificada na literatura, sendo os valores 88,43; 88,95; 91,63 e 92,89%, respectivamente, para T1, T2, T3 e T4. A digestibilidade do amido foi superior em T4 em comparação a T1 e T2 (P<0,05), ao passo o valor verificado em T3 não diferiu dos demais. Os dados mostram que não houve queda na digestibilidade do amido quando o teor deste passou de 16,77 para 34,76% na MS (T1 e T2, respectivamente) e que o valor mais elevado de digestibilidade do amido foi obtido em T4, que apresentava quantidades significativas de diferentes fontes de carboidratos de rápida degradação ruminal (carboidratos solúveis, pectina e amido). Apesar do alto nível de concentrado e da baixa efetividade da fibra do BTPV, os valores médios de pH situaram-se em níveis satisfatórios à digestão de fibra, sendo 6,60; 6,43; 6,49 e 6,47 para Tl, T2, T3 e T4, respectivamente, não havendo diferença entre os tratamentos (P>0,10). Apesar das curvas de variação de pH não diferirem entre os tratamentos, T2 tendeu a manter pH mais baixo ao longo do dia, indicando maior quantidade de amido disponível para fermentação. Não houve efeito dos tratamentos nos valores médios de amônia ruminal (P>0,10), cujos valores médios foram 5,03; 3,92; 4,98 e 5,94 mg/dl, respectivamente, para T1, T2, T3 e T4, sendo compatíveis com os dados verificados na literatura. O aumento da proporção de concentrado composto de milho moído (T2) reduziu a fração "in situ" potencialmente degradável da MS e da FDN (P<0,05) do BTPV, diminuindo a degradação potencial e efetiva, enquanto os tratamentos T3 e T4 mantiveram-se em níveis intermediários, não diferindo dos demais. Concluiu-se que tanto o farelo de glúten de milho quanto a polpa cítrica podem ser utilizados em substituição parcial ao milho em dietas à base de BTPV nos níveis estudados (19 e 27% da MS total da dieta para polpa cítrica e farelo de glúten de milho, respectivamente) sem queda na digestibilidade, provavelmente em função da menor competição por substratos fermentescíveis em comparação ao tratamento com alto teor de amido ou em função de condições ruminais mais favoráveis à digestão de fibra, estimulando o desenvolvimento de bactérias celulolíticas. Ambos os subprodutos estudados apresentam grande potencial de substituição parcial do milho em dietas com BTPV, sem que haja redução da digestibilidade.

Four fistulated Nellore steers (2,5 years old and 500 kg average body weight) were used to evaluate the effects of partial replacement of ground corn for energy sources that contain different carbohydrate profiles in diets based on sugarcane bagasse treated with steam and pressure (BTPV). The experimental design was a latin square with 4 treatments: control (T1), which had a lower concentrate content (40% DM), and three diets with higher concentrate levels (60% DM), with energy source evaluated being ground corn (T2), corn gluten feed (T3) and dried and ground citrus pulp (T4). The diets were formulated so that the three treatments with lower amounts of corn (T1, T3 and T4) had a fixed ground corn inclusion of 20.8% in total DM. The variables studied includes intake, digestibility of dry matter and its components, passage rates, ruminal pH, ruminal ammonia and "in situ" degradation of BTPV incubated in all treatments and ground corn incubated in T1 and T2, corn gluten feed in T3 and citrus pulp in T4. The increase in concentrate content, irrespective of source, improved dry matter intake as a % of body weight (P<0.05), with values of 1.48; 1.80; 1.83 e 1.72%, respectively, for T1, T2, T3 and T4, and tended to increase DM digestibility and total digestible nutrients (TDN), P=0.12, with average values of TDN being 59.16; 65.54; 64.24 e 64.23%, respectively. The utilization of corn gluten feed or citrus pulp as partial substitutes for corn didn't reduced the energy content of the diets. There was no effect (P>0.10) in the digestibility of acid detergent fiber (ADF) or neutral detergent fiber (NDF) with the higher concentrate level, though the treatment with high levels of ground corn (T2) and citrus pulp (T4) resulted in lower values than T1 and T3. Total tract starch digestibility were within the range observed in the literature, with values being 88.43; 88.95; 91.63 and 92.89%, respectively, for T1, T2, T3 and T4. Starch digestibility was higher for T4 compared to T1 and T2 (P<0.05), whereas T3 wasn't different from any other treatment. The data shows that the increase on starch content from 17,66 to 34,76% of total DM (T1 and T2, respectively) didn't reduce starch digestibility, and that highest digestibility was observed in T4, which had significant amounts of different fast digesting carbohydrate sources (soluble carbohydrates, pectin and starch). Despite the high levels of concentrate and the lack of effective fiber in BTPV, average ruminal pH levels were adequate for fiber digestion, with values being 6.60; 6.43; 6.49 and 6.47 for T1, T2, T3 and T4, respectively, with no difference (P>0.10) between treatments. Although pH curves were not different, T2 tended to have lower pH values after the peak of fermentation, suggesting greater amount of ruminal digestible starch compared to the other treatments. There was no difference between treatments regarding average ruminal ammonia levels (P>0.10), with values of 5.03; 3.92; 4.98 and 5.94 mg/dl, respectively, for Tl, T2, T3 and T4, low but within the range observed in previous research reports in such diets. The increase in concentrate through higher ground corn levels (T2) reduced "in situ" potentially degradable fraction of BTPV DM and NDF (P<0.05), reducing potential and effective degradation. However, T3 and T4 did not reduce these parameters compared to Tl. The results suggest that either corn gluten feed or ground citrus pulp can partially replace ground corn in BTPV diets at the tested levels (19 and 27% of total DM for citrus pulp and corn gluten feed, respectively) without reduction in DM digestibility, possibly because of reduced competition for fermentable substrates compared to high ground corn diets, or because of better ruminal conditions for fiber digestion, stimulating the growth of cellulolytic bacteria. Both byproducts show great potential for the partial replacement of ground corn in diets with BTPV without reducing total diet digestibility.