Esta pesquisa parte do princípio de que cada vez mais dimensões da vida coletiva (culturais, espirituais, simbólicas) e da natureza são reduzidas a mercadorias dentro do capitalismo global, e que este, mais que um modo de produção é hoje um regime cultural e civilizacional que se estende a domínios que dificilmente são concebidos como capitalistas, impondo uma lógica de monetarização da vida, inclusive do tempo. Lógica dentro da qual somos levados a pensar constantemente - se não sempre - em hierarquias, ponderando com o que se vale a pena gastar tempo, e por quais direitos começaremos a lutar, esquecendo que o direito à cidade implica, de fato, no acesso a todos os direitos, sem exceção. Assim, entendendo a educação como potência para reencantamento de mundo, e trabalhando a ideia da escola como força, a investigação se propõe a pensar, a partir de experiências desenvolvidas com a participação de estudantes e educadores da rede pública municipal de educação básica do distrito do Jaraguá, localizado na Zona Noroeste da cidade de São Paulo - mais precisamente, de escolas situadas nas cercanias do Parque Municipal Pinheirinho Dágua -, novas epistemes capazes de estabelecer vias de diálogo entre as diversas práticas e diversos atores sociais. Epistemes que se apoiem no cotidiano enquanto inventário de diferentes saberes e rotas, fortalecendo práticas pedagógicas para a liberdade. Liberdade de linguagens, saberes e de corpos. Tendo isto em mente, assume-se como questão central desta pesquisa a investigação da potência pedagógica do encantamento pela paisagem cotidiana para uma educação crítica e, portanto, cidadã. A partir da compreensão que aquilo que aparece espontaneamente à consciência não reflexiva do ser humano - apreendido na experiência do sensível -, é, na realidade, a manifestação visível das relações presentes na sociedade, e, portanto, é a partir dessa assimilação que é possível compreender-se enquanto um ser que é coletivo, em processo; enquanto ser inacabado, numa dimensão crítica.

This research assumes that more and more dimensions of collective life (cultural, spiritual, symbolic) and of nature are reduced to commodities within global capitalism, and that this, more than a mode of production, is today a cultural and civilizational regime. That extends to domains that are hardly conceived as capitalist, imposing a logic of monetization of life, including time. A logic within which we are led to think constantly - if not always - in hierarchies, pondering what is worth spending time on, and which rights we will begin to fight for, forgetting that the right to the city implies, in fact, on the access to all rights without exception. Thus, understanding education as a power for the re-enchantment of the world, and working with the idea of the school as a force, the investigation proposes to think, based on experiences developed with the participation of students and educators from the municipal public network of basic education in the district of Jaraguá, located in the Northwest Zone of the city of São Paulo - more precisely, of schools located in the vicinity of the Pinheirinho Dágua Municipal Park -, new epistemes capable of establishing ways of dialogue between the different practices and different social actors. Epistemes that are supported in everyday life as an inventory of different knowledge and routes, strengthening pedagogical practices for freedom. Freedom of languages, knowledge and bodies. With this in mind, the central question of this research is the investigation of the pedagogical power in the enchantment for the everyday landscape to a critical and, therefore, citizen education. From the understanding that what appears spontaneously to the non-reflective consciousness of the human being - apprehended in the experience of the sensible -, is, in fact, the visible manifestation of the relationships present in society, and, therefore, it is from this assimilation that it is possible to understand oneself as a being that is collective, in process; while being unfinished, in a critical dimension.