Introdução Pacientes idosos com doença oncológica em estágio avançado constituem importante demanda dos cuidados paliativos, cenário no qual alterações metabólicas e do estado nutricional podem estar presentes. Objetivos Avaliar os efeitos do consumo de chocolate pelo período de 4 semanas contínuas sobre o estado nutricional, qualidade de vida, composição corporal, estresse oxidativo e atividade inflamatória de pacientes idosos com câncer em cuidados paliativos. Metodologia Ensaio clínico delineado como estudo de intervenção comparativa, randomizado, não cego, envolvendo pacientes idosos, portadores de câncer e em cuidados paliativos em acompanhamento ambulatorial no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Os pacientes foram randomizados em 3 blocos de 15 indivíduos nos grupos controle (GC), de intervenção com chocolate 55% de cacau (GI1) e grupo de intervenção com chocolate branco (GI2). Os voluntários foram avaliados em um primeiro momento e após o período de 4 semanas (28 dias), quanto a parâmetros nutricionais clínicos, laboratoriais, análise de qualidade de vida e presença e graduação de sintomas. O estado nutricional dos pacientes foi analisado por meio do uso da Mini Avaliação Nutricional (MAN) e o consumo alimentar atual e habitual por meio do inquérito recordatório de 24 horas (IR24h) e do questionário de frequência alimentar (QFA), respectivamente. Obteve-se o índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço e circunferência da panturrilha dos voluntários e a composição corporal foi avaliada por meio do método de óxido de deutério. Houve a análise do perfil inflamatório por meio dos níveis séricos de interleucina 6 e a avaliação da capacidade antioxidante a partir da quantificação de glutationa reduzida (GSH) e de ácido ascórbico. A peroxidação lipídica no soro foi medida pela determinação dos níveis de malonaldeído e a presença e a quantificação de danos ao material genético por meio dos níveis de 8-hydroxy-2'-deoxyguanosine. Para analisar a qualidade de vida foi administrado o instrumento da Organização Europeia para a Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC) - QLQ-C30 Questionnaire e para avaliar a frequência e intensidade dos sintomas foi utilizada a escala Edmonton Symptom Assessment System (ESAS). Os dados foram analisados pelo software SAS Statistical Software (version 9.3; SAS Institute, Inc. Cary, NC) e pelo R Core Team (2016). Inicialmente, foi feita a análise descritiva dos dados. O teste do Qui-quadrado foi utilizado para avaliar variáveis categóricas. Para a comparação entre os grupos em cada momento e entre os momentos em cada grupo foi utilizado modelo de regressão linear com efeitos mistos. O nível de significância estabelecido foi <0,05. Resultados A média de idade dos pacientes foi de 67,6 ± 5,7 anos (60 a 83 anos) e o KPS médio foi de 88,0 ± 10,9. Os sintomas mais prevalentes foram ansiedade (n=23; 50%), prejuízo do bem-estar (n=23; 50%), sonolência (n=21; 45,6%), cansaço (n=21; 45,6%) e falta de apetite (n=20; 43,4%) em seus diferentes graus de intensidade. Referente à ingestão alimentar verificou-se que, no início do estudo, mais da metade dos pacientes possuía ingestão energética (n = 25; 57,4%) e de proteína (n = 24; 52,2%) inferior ao recomendado ao dia. Além disso, com exceção do sódio, observou-se que a ingestão de fibras, cálcio e vitaminas (A, B6, B12, C e E) estavam abaixo do recomendado. A respeito do estado nutricional verificou-se, ao término do estudo, que o GI1 evoluiu com aumento significativo nas pontuações da triagem (p<0,01) e avaliação nutricional (p=0,04) obtidos por meio da MAN. Com relação à capacidade antioxidante, os níveis de GSH foram menores no GI1 em comparação ao GC (p=0,02) e ao GI2 (p<0,01) ao final do estudo e aumentaram no GI2 (p=0,04), ao se comparar o valor do início e do final para este grupo. Houve diminuição nos níveis de malonaldeído no GI2 (p=0,02) entre o início e o final da intervenção Referente à qualidade de vida, houve melhora dos parâmetros de funcionalidade dos pacientes do GI1, com aumento da pontuação do domínio funcional (p=0,03), do subdomínio role functioning (p<0,01) e social (p<0,01) e uma tendência à diminuição da pontuação de sintomas (p=0,05). Conclusões Nossos resultados evidenciaram que o consumo de chocolate com maior teor de cacau pode contribuir para a melhora do estado nutricional, funcionalidade e para a diminuição de sintomas entre pacientes idosos com câncer em cuidados paliativos. O consumo de chocolate branco foi associado à melhora de parâmetros relacionados ao estresse oxidativo.

Introduction Elderly patients with advanced cancer stage constitute an important demand for palliative care, a scenario in which metabolic and nutritional status changes may be present. Objectives To evaluate the effects of chocolate consumption for 4 continuous weeks on nutritional status, quality of life, body composition, oxidative stress and inflammatory activity of elderly cancer patients in palliative care. Methodology Clinical trial designed as a comparative, randomized, non-blind intervention study involving elderly patients with cancer and palliative care in outpatient follow-up at the Universitary Hospital of the Ribeirão Preto Medical School - University of São Paulo. Patients were randomized into 3 blocks of 15 subjects in the control (CG), 55% cocoa intervention (GI1) and white chocolate (GI2) intervention groups. The volunteers were evaluated before and after 4 weeks (28 days) for clinical and laboratory nutritional parameters, quality of life analysis and presence and grading of symptoms. The nutritional status of the patients was evaluated using the Mini Nutritional Assessment (MNA) and the current and usual food intake through the 24-hour recall survey (IR24h) and the food frequency questionnaire (FFQ), respectively. The body mass index (BMI), arm circumference and calf circumference of the volunteers were obtained and the body composition was evaluated by the deuterium oxide method. The inflammatory profile was analyzed by serum interleukin 6 levels and the antioxidant capacity was evaluated by the quantification of reduced glutathione (GSH) and ascorbic acid. Serum lipid peroxidation was measured by determining malonaldehyde levels and the presence and quantification of damage to genetic material by 8-hydroxy-2'-deoxyguanosine levels. To analyze quality of life, the European Organization for Cancer Research and Treatment (EORTC) - QLQ-C30 Questionnaire was administered and the Edmonton Symptom Assessment System (ESAS) scale was used to assess the frequency and intensity of symptoms. Data were analyzed by SAS Statistical Software (version 9.3; SAS Institute, Inc. Cary, NC) and R Core Team (2016). Initially, a descriptive analysis of the data was performed. Chi-square test was used to evaluate categorical variables. For the comparison between the groups at each moment and between the moments in each group was used linear regression model with mixed effects. The significance level established was <0.05. Results The mean age of the patients was 67.6 ± 5.7 years (60 to 83 years) and the mean KPS was 88.0 ± 10.9. The most prevalent symptoms were anxiety (n = 23; 50%), impairment of well-being (n = 23; 50%), drowsiness (n = 21; 45.6%), tiredness (n = 21; 45.6%) and lack of appetite (n = 20; 43.4%) in their different degrees of intensity. Regarding food intake, it was found that, at the beginning of the study, more than half of the patients had lower energy intake (n = 25; 57.4%) and protein (n = 24; 52.2%) than recommended daily. In addition, with the exception of sodium, fiber, calcium and vitamins (A, B6, B12, C and E) intake were observed to be below recommended levels. Regarding nutritional status, at the end of the study, GI1 evolved with a significant increase in screening scores (p <0.01) and nutritional assessment (p = 0.04) obtained through MAN. Regarding antioxidant capacity, GSH levels were lower in GI1 compared to CG (p = 0.02) and GI2 (p <0.01) at the end of the study and increased in GI2 (p = 0.04) by comparing the start and end values for this group. There was a decrease in the levels of malonaldehyde in GI2 (p = 0.02) between the beginning and the end of the intervention. Regarding the quality of life, there was an improvement in the functional parameters of GI1 patients, with an increase in the functional domain score (p = 0.03), role functioning (p <0.01) and social (p <0.01) subdomain and a tendency to decrease symptom score (p = 0.05). Conclusions Our results showed that the consumption of chocolate with higher cocoa content may contribute to the improvement of nutritional status, functionality and decrease of symptoms among elderly patients with cancer in palliative care. Consumption of white chocolate was associated with the improvement of parameters related to oxidative stress.