Strychnos (Loganiaceae: Gentianales) é um gênero de plantas lenhosas predominantemente lianescente, menos frequentemente na forma de árvores ou arbustos. Possui ca. 200 espécies distribuídas em todas as regiões tropicais do globo, eventualmente com algumas espécies em regiões subtropicais. Sua importância econômica se deve principalmente ao metabolismo secundário de alcaloides tóxicos utilizados para a caça, pesca, controle de roedores e outras pragas, além do envenenamento humano. Dentre essas moléculas, destaca-se a estricnina, um alcaloide terciário de ação convulsiva e letal, extraído das sementes de S. nuxvomica, uma espécie de árvore que ocorre no sudeste da Ásia. Entre as espécies americanas e africanas, o princípio ativo mais conhecido são os alcaloides quaternários de ação relaxante-muscular paralisante extraídos de cascas de troncos e raízes de algumas espécies de Strychnos e utilizados como ingredientes primários ou secundários do veneno curare, usado em flechas e dardos por populações tradicionais. Parte dessas moléculas também possui propriedades farmacológicas de uso terapêutico, enquanto algumas espécies são utilizadas na alimentação humana, dentre outras inúmeras aplicações etnobotânicas. Muitos pesquisadores nomearam e descreveram centenas de espécies de Strychnos desde a descrição do gênero por Linnaeus. No século XX, destacam-se os trabalhos do botânico russo Boris A. Krukoff (1898-1893) especialista em Strychnos americanas, o holandês Anthonius J. M. Leeuwenberg (1930-2010) em Strychnos africanas, e o escocês Norman G. Bisset (1925-1993) para Strychnos asiáticas. Após a morte desses pesquisadores, foram publicados apenas levantamentos florísticos com enfoque regional sobre Strychnos, carecendo a realização de novos estudos sistemáticos e análises filogenéticas. Além disso, muitos dos taxa já publicados em Strychnos ainda continuam com sua posição e status taxonômicos incertos. Dessa forma, o presente trabalho busca preencher parte dessa lacuna, trazendo resultados sobre: a filogenia de Strychnos em nível global com base em caracteres moleculares de 103 espécies e que suporta o gênero como monofilético; a revisão taxonômica e nomenclatural de um grupo infragenérico americano e monofilético (Strychnos sec. Breviflorae subsec. Eriospermae); e o esclarecimento nomenclatural de S. bredemeyeri e do gênero Lasiostoma (um dos sinônimos de Strychnos). Esperamos com esses resultados motivar uma nova geração de pesquisadores para a realização de estudos morfológicos, anatômicos, biogeográficos, evolutivos, dentre outros aspectos chave sobre o gênero.

Strychnos (Loganiaceae: Gentianales) is a genus of woody plants predominantly lianescent, less frequently in the form of trees or shrubs. It has ca. 200 species distributed in all tropical regions of the globe, sometimes with some species occurring in subtropical regions. Its economic importance is mainly due to the secondary metabolism of toxic alkaloids used for hunting, fishing, control of rodents and other pests, and even in human poisoning. Among these molecules, the best-known is the strychnine, a tertiary alkaloid with convulsive and lethal action, extracted from the seeds of S. nuxvomica, a species of tree that occurs in Southeast Asia. Among American and African species, the best-known active principle are quaternary alkaloids with a paralyzing muscle-relaxing action, extracted from the bark of trunks and roots of some Strychnos species and used as primary or secondary ingredients in the dart poison curare. Some of these molecules also have pharmacological properties for therapeutic use, while some species are used as human food, among countless other ethnobotanical applications. Many researchers have named and described hundreds of species of Strychnos since the genus was described by Linnaeus. In the 20th century, stands out the works of the Russian botanist Boris A. Krukoff (1898-1893) specialist in American Strychnos, the Dutch Anthonius J. M. Leeuwenberg (1930-2010) in African Strychnos, and the Scottish Norman G. Bisset (19251993) in Asian Strychnos. After the decease of these researchers, only floristic surveys with a regional focus on Strychnos were published, requiring new systematic studies and phylogenetic analyzes. Furthermore, many of the taxa already published in Strychnos still have uncertain status and taxonomic position. Thus, our work seeks to fill part of this gap, bringing results about: the phylogeny of Strychnos at a global level based on molecular characters of 103 species that supports the genus as monophyletic; the taxonomic and nomenclatural revision of an American infrageneric and monophyletic group (Strychnos sect. Breviflorae subsect. Eriospermae); and clarification of the nomenclatural status of S. bredemeyeri and the genus Lasiostoma (one of the synonyms of Strychnos). We hope that these results will motivate a new generation of researchers to carry out morphological, anatomical, biogeographical, and evolutionary studies, among other key aspects of the genus.