Na literatura internacional sobre brincadeiras infantis, reconhece-se que existem diferenças relacionadas ao gênero nas preferências por brinquedos das crianças. No entanto, até o momento, nenhum estudo testou como as diferenças de gênero nas brincadeiras são expressas em bebês brasileiros. Utilizamos um protocolo de pesquisa padronizado (Brincadeira Livre) e uma seleção de brinquedos de gênero para comparar o tempo gasto por meninos e meninas com cada brinquedo. Também avaliamos o efeito da idade e dos julgamentos dos pais sobre a desejabilidade e nível de tipagem de diferentes tipos de brinquedos para seus filhos. Os participantes foram 40 bebês de 9 a 32 meses de idade e seus pais, provenientes principalmente de famílias de classe baixa. A proporção de meninas (15) foi diferente da de meninos (25), porém, nada significativo. A coleta ocorreu em creches de duas cidades da Grande São Paulo. O questionário das mães consistia em três instrumentos que abrangiam os julgamentos relacionados à atribuição de gênero aos brinquedos e informações demográficas. Semelhante a pesquisas anteriores, foram encontradas preferências estereotipadas por brinquedos para meninos e meninas. Os meninos brincaram mais com o caminhão do que as meninas, enquanto as meninas gastaram mais tempo com brinquedos femininos do que masculinos e neutros. Além disso, as meninas mais velhas brincavam mais tempo com brinquedos tipificados pelo seu gênero do que os masculinos e neutros. Também descobrimos que a desejabilidade dos pais por brinquedos neutros intensificou o brincar dos meninos com kit de cozinha. Portanto, este estudo fornece evidências que sugerem que esse comportamento relacionado ao gênero também está presente em crianças brasileiras, no entanto, mais pesquisas são necessárias. Outras implicações das descobertas são discutidas em relação a predisposições biológicas, desenvolvimento cognitivo e influências ambientais nas preferências por brinquedos.

In the international literature on children's play, it is recognized that there are gender-related differences in children's toy preferences. However, to date, no study has tested how gender differences in play are expressed in Brazilian infants. We utilized a standardized research protocol (Free Play) and a selection of gendered toys to compare the time spent by boys and girls with each toy. We also assessed the effect of age and parental judgments on the desirability and level of gender typing of different types of toys for their children. The 40 participants, aged 9 to 32 months, and their parents, primarily from lower-income families. The proportion of girls (15) differed from that of boys (25), but it was not statistically significant. Data collection took place in daycare centers in two cities in the Grande São Paulo area. The mothers' questionnaire consisted of three instruments that covered judgments related to gender assignment to toys and demographic information. Similar to previous research, stereotyped toy preferences for boys and girls were found. Boys played more with trucks than girls, while girls spent more time with feminine toys than masculine and neutral ones. Additionally, older girls played for longer periods with toys typified by their gender compared to toys typed male and neutral. We also discovered that parental desirability for neutral toys intensified boys' play with kitchen sets. Therefore, this study provides evidence suggesting that gender-related behavior is also present in Brazilian children; however, further research is needed. Other implications of the findings are discussed with regard to biological predispositions, cognitive development, and environmental influences on toy preference.