Esta pesquisa compreende um estudo psicanalítico acerca da vergonha que, tomada como um meta-sentimento, comporta uma variedade de sentimentos articulados entre si, formando o conjunto que compõe os sentimentos de vergonha. Abarcando aspectos psicossexuais, psicoafetivos e psicossociais, sinalizando tanto o risco de quebra quanto de restauração do pacto que sela a dignidade humana, a vergonha é aqui apresentada em seus contornos metapsicológicos. A partir dos trabalhos de Freud, passando pela Escola de Budapeste e chegando aos psicanalistas do cenário atual, os capítulos buscaram apresentar as origens, os mecanismos e efeitos da vergonha, tanto no contexto singular quanto social. Enquanto afeto ligado ao vínculo e tomada como uma angústia social, pôde ser definida como o medo de exclusão. A partir das contribuições de Sandor Ferenczi, Nicholas Abraham e Maria Torok, originada numa situação de violência, a vergonha é aqui apresentada como o afeto imposto por um aviltador capaz de provocar um tipo de clivagem no Eu ou, ainda, uma cripta que sepulta o segredo vergonhoso de um objeto de amor. Nesse cenário, misturada ao segredo, ao trauma, e escapando à lógica do recalcamento, portanto, excluída das interdições simbólicas, a vergonha é analisada em sua impossibilidade de converter-se em memória psíquica. Na condição de afeto isolado do restante da circulação psíquica, apresentando-se clinicamente nas manifestações violentas de passagem ao ato, algumas perversões e somatizações retratam um panorama de seu papel na clínica não neurótica. Finalmente, expõe a noção da transmissão transgeracional da vergonha e seus efeitos como fator de exclusão social grupal, incluindo aí os sofrimentos negados e a violência nas dinâmicas de trabalho

This research comprises a psychoanalytic study on shame which, taken as a metafeeling, holds a variety of articulated feelings, forming the set that composes the feelings of shame. Embracing psychosexual, psychoaffective and psychosocial aspects, signaling both the risk of breaking and restoring the pact that seals human dignity, shame is thus presented in its metapsychological contours. Beginning with Freuds work, then consulting the Budapest School and finally approaching psychoanalysts of the current scenario, the chapters sought to present the origins, mechanisms and effects of shame, both in the singular and social context. As an affect linked to bonding and taken as social anguish, it could be defined as the fear of exclusion. Making use of the contributions of Sandor Ferenczi, Nicholas Abraham and Maria Torok, shame is thought to be originated in a situation of violence, and it is here presented as the affect imposed by a perpetrator capable of provoking a kind of cleavage in the Self, or even a crypt that buries the shameful secret of an object of love. In this scenario - mixed with secrecy, trauma, and escaping from the logic of repression, therefore, excluded from symbolic prohibitions - shame is analyzed in its impossibility of converting itself into psychic memory. In the condition of isolated affect from the rest of the psychic circulation, clinically presenting itself in the violent manifestations of passage to the act, some perversions and somatizations portray a panorama of its role in the non-neurotic clinic. Finally, it exposes the notion of transgenerational transmission of shame and its effects as a factor of group social exclusion, including the denied suffering and violence in work dynamics