As formas de comunicação mais utilizadas pelas aves são as modalidades acústica e visual. A emissão de sinais acústicos e visuais pode transmitir informações importantes para a sobrevivência e perpetuação da espécie, além de desempenhar um papel fundamental na capacidade de reconhecimento espécie-específico e na manutenção da estrutura e coesão em espécies sociais. Sendo assim, o estudo da comunicação pode ser um grande aliado quando buscamos entender o comportamento e as emoções desses animais, especialmente quando desejamos mensurar o impacto da ação humana sobre aves introduzidas ao cativeiro. Uma das formas de analisar esse impacto é identificando as respostas que são produzidas pelos animais em condições de estresse e bem-estar, traçando um paralelo entre os padrões de comportamento e comunicação observados em condições artificiais e naturais de sobrevivência. Este estudo teve por objetivo descrever o repertório acústico, visual e comportamental de araras-canindé (Ara ararauna) em cativeiro sob diferentes contextos comportamentais, buscando descrever os padrões que caracterizam a rotina destas aves e verificar quais destes padrões podem ser usados como forma de manifestar de emoções. Este estudo foi realizado com as araras do Zoo das Aves de Poços de Caldas-MG, em um recinto de imersão, o qual permite contato direto do público com as aves. Registramos dados referentes à comunicação acústica através das técnicas de all occurrences sampling e focal animal. Os dados referentes ao comportamento e à comunicação visual foram coletados através da técnica de scan sampling e focal animal e contando com o apoio do repertório de comportamentos e displays visuais descritos para a espécie. Esses dados foram analisados com auxílio de softwares de análise de som/vídeo e catalogados em planilhas. Aplicamos estatística descritiva para auxílio da descrição e caracterização do repertório vocal da espécie e calculamos as frequências relativas dos comportamentos e sinais visuais associados às vocalizações. Plotamos gráficos de barras para visualizar a dinâmica dos comportamentos e da comunicação exibidos pelas aves no recinto e realizamos análises exploratórias para identificar os padrões que caracterizavam a rotina destas aves. Também aplicamos testes estatísticos do tipo t-test, ANOVAs e Tukey para identificar os possíveis parâmetros que estivessem relacionados à manifestação de emoções de valências positivas ou negativas em contextos de estresse e bem-estar. Nossos resultados revelaram um extenso repertório vocal para a espécie em cativeiro, com a presença de 22 tipos de vocalizações distintas, descritas em seis contextos comportamentais. Também foi possível observar a presença marcante de associações entre sinais acústicos e visuais para a maioria das vocalizações registradas, revelando que araras-canindé exibem uma forte tendência a manifestar comunicação multimodal em diferentes contextos. O repertório de sinais visuais descrito para as aves contou com oito categorias de displays, dentre os quais destacamos a exibição de rubor facial e eye pinning. Estes sinais se mostraram significativamente associados a vocalizações emitidas em contextos de valência negativa, nos permitindo inferir que ambos são usados pela espécie como forma de manifestar emoções negativas. Outra possível forma de manifestação de desconforto está na estrutura das vocalizações emitidas, nossos dados sugerem que vocalizações mais longas estão associadas a contextos mais estressantes. Também foi possível identificar manifestações negativas analisando os padrões de comportamento exibidos pelos animais, os quais tenderam a exibir comportamentos atípicos e estereotipados em contextos de estresse, tendência que se refletiu no aumento das taxas de comportamentos de valência negativa pelos animais em contextos de visitação invasiva. O estudo constatou, entretanto, que a visitação quando não invasiva e realizada por grupos pequenos, não constitui um fator estressante o suficiente para impactar negativamente na saúde e rotina dos animais, se mostrando uma alternativa interessante a ser explorada por instituições de cativeiro para a manutenção do bem-estar, especialmente quando aliada às técnicas de enriquecimento ambiental. Este é o primeiro estudo a descrever o repertório vocal de A. ararauna, tanto em cativeiro quanto em vida livre. O trabalho em questão se provou de grande relevância ao destacar questões fundamentais para o entendimento da manifestação das emoções de araras-canindé através da comunicação vocal e visual, fornecendo informações adicionais aos estudos clássicos de comportamento que já vinham sendo realizados para a espécie. Para fortalecer ainda mais essa compreensão, recomendamos que estudos como este sejam realizados para araras-canindé de vida livre, promovendo um diálogo onde seja possível identificar com ainda mais clareza as anomalias oriundas do cativeiro.

The most commonly used forms of communication by birds are acoustic and visual modalities. The emission of acoustic and visual signals can convey important information for the survival and perpetuation of the species, as well as play a fundamental role in the capacity for species-specific recognition and in maintaining structure and cohesion in social species. Thus, the study of communication can be a great ally when we seek to understand the behavior and emotions of these animals, especially when we wish to measure the impact of human action on birds introduced to captivity. One way to analyze this impact is by identifying the responses that are produced by the animals under conditions of stress and well-being, drawing a parallel between the patterns of behavior and communication observed in artificial and natural survival conditions. This study aimed to describe the acoustic, visual, and behavioral repertoire of blue-and-yellow macaws (Ara ararauna) in captivity under different behavioral contexts, seeking to describe the patterns that characterize the routine of these birds and verify which of these patterns can be used as a way to express emotions. This study was conducted with the macaws of the Zoo das Aves in Poços de Caldas-MG, in an immersion enclosure, which allows direct public contact with the birds. We recorded data related to acoustic communication using the techniques of all occurrences sampling and focal animal. Data on behavior and visual communication were collected through the scan sampling and focal animal technique, with the support of the repertoire of behaviors and visual displays described for the species. These data were analyzed with the help of sound/video analysis software and cataloged in spreadsheets. We applied descriptive statistics to aid in the description and characterization of the species' vocal repertoire and calculated the relative frequencies of behaviors and visual signals associated with vocalizations. We plotted bar graphs to visualize the dynamics of the behaviors and communication displayed by the birds in the enclosure and performed exploratory analyses to identify the patterns that characterized the routine of these birds. We also applied statistical tests such as t-tests, ANOVAs, and Tukey to identify possible parameters related to the manifestation of emotions with positive or negative valences in contexts of stress and well-being. Our results revealed an extensive vocal repertoire for the species in captivity, with the presence of 22 different types of vocalizations, described in six behavioral contexts. It was also possible to observe a marked presence of associations between acoustic and visual signals for most of the recorded vocalizations, revealing that blue-and-yellow macaws exhibit a strong tendency to manifest multimodal communication in different contexts. The repertoire of visual signals described for the birds included eight categories of displays, among which we highlight the exhibition of facial flushing and eye pinning. These signals proved to be significantly associated with vocalizations emitted in contexts of negative valence, allowing us to infer that both are used by the species as a way to express negative emotions. Another possible way of manifesting discomfort is in the structure of the vocalizations emitted, our data suggest that longer vocalizations are associated with more stressful contexts. It was also possible to identify negative manifestations by analyzing the patterns of behavior exhibited by the animals, which tended to display atypical and stereotyped behaviors in contexts of stress, a tendency that was reflected in the increase in rates of negative valence behaviors by the animals in contexts of invasive visitation. The study found, however, that visitation when not invasive and conducted by small groups, does not constitute a stressful factor enough to negatively impact the health and routine of the animals, proving to be an interesting alternative to be explored by captivity institutions for the maintenance of well-being, especially when combined with environmental enrichment techniques. This is the first study to describe the vocal repertoire of A. ararauna, both in captivity and in the wild. The work in question proved to be of great relevance in highlighting fundamental issues for the understanding of the manifestation of emotions of blue-and-yellow macaws through vocal and visual communication, providing additional information to the classic behavior studies that had already been conducted for the species. To further strengthen this understanding, we recommend that studies like this be conducted for wild blue-and-yellow macaws, promoting a dialogue where it is possible to identify even more clearly the anomalies arising from captivity.