Partindo da premissa de que a área do ensino de ciências no Brasil se constitui como espaço de encontro dos discursos científico e pedagógico, a presente investigação tem como objetivo geral caracterizar e analisar as práticas da referida área, nos últimos 25 anos, tendo em mente que, em razão das características específicas da ciência como credibilidade, rigor, aceitação social e vontade de verdade a área em tela apresenta um viés cientificista, amortizando seu papel propriamente pedagógico. Para tanto, dimensiona-se o potencial da teorização foucaultiana para refletir sobre as questões da educação em ciências, por meio da focalização da produção textual em periódicos da área que se utilizou de conceitos foucaultianos. Inicialmente, foram reunidas fontes que ajudaram a compor a argumentação geral da Tese inspirada na arqueogenealogia foucaultiana. O material empírico do estudo recobre a produção, entre 1994 e 2018, dos 10 periódicos brasileiros de educação em ciências mais bem avaliados. Entre os artigos publicados por esses periódicos, foram selecionados aqueles cujos títulos, resumos e palavras-chave caracterizavam a pesquisa em ensino de ciências nos últimos 25 anos. Nesse âmbito, três noções destacaram-se como focos de interesse dos pesquisadores: formação, ambiental e livro didático. A partir deles, foram construídas redes semânticas para cada uma dessas noções, a fim de analisar a emergência dos mecanismos argumentativos utilizados pelos pesquisadores nos artigos que tratam dessas noções. Como resultado, evidenciamos que, no período analisado, houve um aumento da diversidade temática abordada pelos pesquisadores, o qual permitiu que a área pudesse ser atravessada por outras discussões, sobretudo aquelas preocupadas com uma maior fundamentação pedagógica. Assim, as problematizações que estão sendo adicionadas aos discursos dos pesquisadores em ensino de ciências parecem ser influenciadas, sobretudo, pelo encontro do discurso pedagógico com o científico. Nesse sentido, a investigação destaca que, apesar de a composição inicial da área de educação em ciências ter tido uma sustentação maior no discurso científico, essa situação não lhe assegurou uma posição segura, pois, com o passar dos anos, pistas indicam uma zona de enfrentamento e, ao mesmo tempo, de aproximação ao campo educacional.

Based on the premise that the area of science education in Brazil is a meeting place for scientific and pedagogical discourses, this research aims to characterize and analyze the practices of that area in the last 25 years, bearing in mind that, due to the specific characteristics of science - such as credibility, rigor, social acceptance and will to truth - the area in question presents a scientific bias, amortizing its precisely pedagogical role. To this end, we evaluate the potential of Foucaultian theorizing to reflect the issues of science education by focusing on textual production in journals in the area that used Foucaultian concepts. Initially, sources were gathered to help compose the general argument of the Thesis inspired by Foucault's archeogenealogy. The empirical material of the study covers the production, between 1994 and 2018, of the 10 best rated Brazilian journals of science education. Among the articles published by these journals, we selected those whose titles, abstracts and keywords characterized research in science education in the last 25 years. In this context, three notions stood out as focus of interest to researchers: training, environmental and textbook. From them, semantic networks were built for each of these notions, in order to analyze the emergency of the argumentative mechanisms used by researchers in the articles dealing with these notions. As a result, we evidenced that, during the analyzed period, there was an increase of thematic diversity approached by the researchers, which allowed the area to be crossed by other discussions, especially those concerned with a greater pedagogical foundation. Thus, the problematizations that are being added to the discourses of researchers in science education seem to be influenced, above all, by the encounter of the pedagogical discourse with the scientific one. In this sense, the research highlights that, although the initial composition of the area of science education had a greater support in the scientific discourse, this situation did not assure a safe position, because, over the years, clues indicate a confrontation zone and, at the same time, approximation to the educational field