Os museus de ciências oferecem um ponto de vista privilegiado para se estudar conversas infantis, possibilitando um registro detalhado de como as crianças e seus familiares interagem durante a experiência de visita. Embora saibamos pouco sobre como as crianças desenvolvem a alfabetização científica (AC) em ambientes de educação não formais, pesquisas em museus sugerem que as conversas que as crianças têm entre elas e com os familiares podem refletir e mudar o que entendem sobre a ciência. Diante desse panorama, o objetivo desta pesquisa foi analisar como o processo de alfabetização científica é expresso nos diálogos de crianças de 7 a 11 anos em visita familiar a dois museus de ciências brasileiros, o Museu de Microbiologia do Instituto Butantan (IBu) e o Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS. A pesquisa pautou-se na abordagem qualitativa. Os instrumentos de coleta de dados incluíram a observação, a filmagem, o questionário sociocultural e as entrevistas. A análise dos dados teve como principal orientação a ferramenta teórico-metodológica dos indicadores de alfabetização científica proposta por Marandino et al. (2018), a qual é composta por quatro indicadores Científico, Interface social, Institucional e Interação e seus respectivos atributos, seguido de uma análise de conteúdo. Os resultados apontam que todos os indicadores foram identificados, sendo os indicadores Interação e Científico os mais contabilizados, seguido dos indicadores Interface Social e Institucional. Portanto, o processo de alfabetização científica é presente no diálogo das crianças com suas famílias e os museus de ciências são espaços potencializadores dessa prática. No entanto, ressaltamos que dentro de um mesmo indicador há oscilações entre os atributos, ou seja, eles aparecem de forma desigual. Verificou-se, por exemplo, a ausência de diálogos que mencionassem pesquisas que estão sendo desenvolvidas ou que citassem instituições financiadoras de pesquisas. Um número pequeno de conversas fez referências a pesquisadores envolvidos no processo de produção da ciência, reconheceu a ciência como produção humana ou abordou alguma questão controversa da ciência. A forte presença dos indicadores Científico e Interação mostra que a experiência de visita precisa oferecer mais do que uma oportunidade para aprender fatos científicos e precisa oferecer o entendimento de como a ciência é produzida, partilhada e financiada. A compreensão de como a ciência está integrada na sociedade, incluindo seus aspectos morais e éticos contribuirá para o engajamento de crianças na discussão e na tomada de decisões de tópicos relacionados à ciência.

Science museums offer a privileged perspective to study children's conversations since they enable accurate records of the ways children and family members interact during visits. Although little is known about how children develop scientific literacy (SL) in non-formal education environments, studies on museums suggest that children's conversations among themselves and with family members can reflect and change their understanding of science. Drawing from this context, this study analyzed how the scientific literacy process is expressed in the dialogues of children aged seven to eleven years during family visits to two Brazilian science museums: the Microbiology Museum, that belongs to the Butantan Institute (IBu) and the Science and Technology Museum at PUCRS (Pontifical Catholic University in the state of Rio Grande do Sul). This research relies on a qualitative approach, and its data collection instruments included observation, filming, a sociocultural questionnaire, and interviews. To guide us throughout the work, we used the scientific literacy theoretical-methodological tool proposed by Marandino et al (2018), comprised of four indicators Science, Social Interface, Institution, and Interaction and their attributes, followed by content analysis. Results show that all indicators were identified; both the Science and the Interaction indicators were the most observed, followed by the Social Interface and Institution indicators. Thus, the scientific literacy process is present in the dialogues of children with their families and science museums are spaces that could potentially enhance this process. However, the attributes within each indicator occurred unevenly, in different quantities. We noticed the absence of dialogues mentioning ongoing research, or that cited research funding institutions. A small number of dialogues referred to researchers actively involved in scientific endeavors, conceived science as a human process or alluded to scientific controversies. The strong presence of both the Science and the Interaction indicators shows that the visiting experience needs to offer more than an opportunity to learn only scientific facts: it should also explain how science is produced, shared and financed. A better understanding of how science is embedded in society, including its moral and ethical aspects, can contribute to a higher engagement of children in understanding, discussing and making decisions regarding science-related topics.