A adolescência é um período de vulnerabilidade, marcado por diversas transformações biopsicossociais. É nesse momento que condutas infracionais/delituosas normalmente se manifestam pela primeira vez. Contudo, diferentes autores pontuam que a manifestação dessa conduta descreve trajetórias diferentes, que variam quanto à frequência, diversidade e gravidade dos atos praticados. A prática reiterada de delitos na adolescência parece estar associada a diferentes fatores descritos pela literatura da área. Aliado a isso, sabe-se que as intervenções que têm maiores efeitos sobre a reincidência são aquelas que abordam os fatores de risco específicos, associados à trajetória delituosa persistente, bem como aquelas que melhor se adaptam às características de cada adolescente. Nesse sentido, destaca-se a importância de caracterizar os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, sobretudo aqueles que estão em contexto de restrição de liberdade. Essa caracterização deve abranger não só variáveis sociodemográficas, mas, sobretudo, aquelas que permitam descrever suas necessidades (criminogênicas), o risco e a responsividade que lhes caracteriza. Frente ao exposto, o objetivo geral do presente estudo foi à caracterização psicossocial de adolescentes, do sexo masculino, em cumprimento de medida socioeducativa em regime de internação. Os objetivos específicos foram caracterizar os adolescentes infratores quanto aos aspectos psicológicos e da personalidade (traços, valores e atitudes); variáveis sociais/relacionais (relações na escola, família e grupo de pares de idade); atividade de rotina e tempo livre; indicadores de problemáticas de saúde mental, raiva e autocontrole; e padrões de conduta delituosa mais grave. Participaram da investigação 104 adolescentes entre 16 a 19 anos, a maioria negra, de classe social menos favorecida. Os instrumentos utilizados foram Questionário de Comportamentos Juvenis (QCJ), Inventário Jesness Revisado Brasileiro (IJ-R-Br), Escala de Autocontrole (EAC) e Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI II). Foram realizadas análises estatísticas descritivas e regressão logística simples e ajustada. A investigação desdobrou-se em dois estudos. O primeiro focalizou a caracterização psicossocial dos jovens, observando-se a existência de subgrupos com diferentes problemáticas comportamentais e se destacando um subgrupo apresentando problemáticas mais significativas, relacionadas a fatores de risco psicológicos e sociais/relacionais. O segundo focou-se em caracterizar os participantes quanto à experiência da raiva, do autocontrole e no tocante a indicadores de saúde mental. Neste, observou-se que a prevalência de indicadores de problemáticas de saúde em meio aos jovens foi bastante alta, mas somente a raiva (traço) mostrou-se significativamente relacionada ao engajamento em delitos violentos. A partir desses dois estudos verificou-se a importância da caracterização dos adolescentes, pois ela permitiu conhecer melhor os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, indicando a necessidade de os programas de intervenção socioeducativos considerarem certos aspectos/problemáticas psicossociais. Em pesquisas futuras, na mesma direção, deve-se ampliar a amostra e realizar análises mais sofisticadas.

Adolescence is a period of vulnerability, marked by several biopsychosocial transformations. It is at this moment that infrastructural/criminal conduct usually manifests itself for the first time. However, different authors point out that the manifestation of this conduct describes different trajectories, which vary in terms of frequency, diversity and severity of the acts carried out. The repeated practice of crimes during adolescence seems to be associated with different factors described in the literature in the area. In addition to this, it is known that the interventions that have the greatest effects on recidivism are those that address the specific risk factors associated with the persistent criminal trajectory, as well as those that best adapt to the characteristics of each adolescent. In this sense, the importance of characterizing adolescents in compliance with socio-educational measures stands out, especially those who are in a context of restricted freedom. This characterization must cover not only sociodemographic variables, but, above all, those that allow describing their needs (criminogenic), the risk and responsiveness that characterizes them. In view of the above, the general objective of the present study was the psychosocial characterization of male adolescents undergoing socio-educational measures in an inpatient setting. The specific objectives were to characterize the adolescent offenders in terms of psychological and personality aspects (traits, values and attitudes); social/relational variables (relationships at school, family and age group); routine activity and free time; indicators of mental health problems, anger and self-control; and patterns of more serious criminal conduct. 104 teenagers aged between 16 and 19 participated in the investigation, the majority of whom were black, from a lower social class. The instruments used were the Youth Behavior Questionnaire (QCJ), Brazilian Revised Jesness Inventory (IJ-R-Br), Self-Control Scale (EAC) and Anger Expression Inventory as State and Trait (STAXI II). Descriptive statistical analyzes and simple and adjusted logistic regression were performed. The investigation was divided into two studies. The first focused on the psychosocial characterization of young people, observing the existence of subgroups with different behavioral problems and highlighting a subgroup presenting more significant problems, related to psychological and social/relational risk factors. The second focused on characterizing participants in terms of their experience of anger, self-control and mental health indicators. In this, it was observed that the prevalence of indicators of health problems among young people was quite high, but only anger (trait) was significantly related to engagement in violent crimes. From these two studies, the importance of characterizing adolescents was verified, as it allowed us to better understand adolescents who comply with socio-educational measures, indicating the need for socio-educational intervention programs to consider certain psychosocial aspects/problems. In future research, in the same direction, the sample must be expanded and more sophisticated analyzes must be carried out.