Introdução: A adolescência é marcada sobretudo pelo comportamento impulsivo, o que pode favorecer a ocorrência de agravos envolvendo violência interpessoal e autoprovocada. Dentre estas, se destacam as tentativas de suicídio. Alguns atendimentos desta natureza podem permanecer ocultos por dúvidas sobre a intencionalidade de morte sobretudo em crianças e adolescentes. Diante desta problemática, este trabalho tem como pergunta de pesquisa: Como se dá o atendimento aos adolescentes admitidos no Pronto Socorro com história de tentativa de suicídio? Objetivos: Identificar a trajetória do atendimento aos adolescentes admitidos no Pronto Socorro adulto e infantil por tentativa de suicídio mediante análise dos registros de atendimento. Descrever o perfil sócio demográfico de adolescentes atendidos por tentativa de suicídio; descrever o percurso de atendimento de adolescentes atendidos por tentativa de suicídio no âmbito hospitalar; identificar os fatores de risco presentes em adolescentes atendidos por tentativa de suicídio; descrever os meios utilizados pelos adolescentes para a tentativa de suicídio; descrever as intervenções realizadas pelos profissionais nos adolescentes atendidos por tentativa de suicídio e descrever o desfecho de atendimento e o destino dado aos adolescentes atendidos por tentativa de suicídio. Método: estudo quantitativo e retrospectivo de natureza descritiva e exploratória. Foram utilizados dados de prontuários de adolescentes de 10 a 19 anos atendidos em um hospital de nível secundário no município de São Paulo entre janeiro de 2015 a julho de 2020. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e da instituição coparticipante. Resultados: Foram coletados dados de 88 atendimentos, sendo 73 (83,0%) do sexo feminino; com idade média de 16,4 anos; o meio mais utilizado para tentativa de suicídio foi a intoxicação exógena medicamentosa 74 (84,1%); o local de maior ocorrência foi a própria moradia 73 (83%). Agravos psiquiátricos foram encontrados em 36 (40,9%) atendimentos. A tentativa de suicídio anterior foi mencionada por 34 (39%) e a automutilação por 22 (25%) dos atendidos. Receberam avaliação psiquiátrica 58 (65,9%). Os métodos violentos e abuso de tóxicos foram associados ao sexo masculino (p<0,001) de maior idade. Os antidepressivos foram os medicamentos mais utilizados de forma abusiva, sendo os mesmos de uso dos próprios adolescentes (p<0,001). Os adolescentes de menor idade reportaram mais conflitos familiares e utilizaram medicamentos desta como meio para a tentativa de suicídio (p<0,001). Receberam alta do próprio setor de emergência 43 (48,9%). Quanto à classificação internacional de doenças, 61 (69,3%) enquadravam-se no grupo das Intoxicações exógenas (CID T.50.9 a T65.9). Foram notificadas 23 (26,1%) das tentativas de suicídio. Conclusão: As tentativas de suicídio em adolescentes merecem a visibilidade do real e potencial problema de saúde pública que representam. Para os adolescentes mais jovens e para aqueles que permaneceram internados ou receberam avaliação psiquiátrica no próprio serviço, houve maior detalhamento dos fatores de risco. Nos últimos anos houve melhora no sistema de notificações. Os achados deste trabalho corroboram a literatura apontando para a necessidade de implementação de melhorias, sobretudo na documentação hospitalar no que diz respeito à verdadeira notificação dos casos de tentativa de suicídio.

Introduction: The adolescent period of life is mainly marked by impulsive behavior, which can lead to the occurrence of injuries such as interpersonal and self-harm, among which suicide attempts stand out. However, some care of this nature may remain hidden for questions about the intentionality of death, especially in children and adolescents. In view of this problem, the present study asks the following research question: How is care given to adolescents admitted to the emergency room with a history of attempted suicide? Objectives: Identify the trajectory of care for adolescents admitted to the adult and children emergency rooms for attempted suicide by analysing the care records. Describe the socio-demographic profile of adolescents treated for attempted suicide; describe the course of care for adolescents treated for attempted suicide in the hospital; identify the risk factors present in adolescents treated for attempted suicide; describe the means used by adolescents to attempt suicide; describe the interventions performed by professionals in adolescents treated for attempted suicide and describe the outcome of care and the destination given to adolescents treated for attempted suicide. Method: it is a quantitative and retrospective study of a descriptive and exploratory nature. Data from medical records of adolescents between the ages of 10 to 19 attended to at a secondary-level hospital in the city of São Paulo between January 2015 and July 2020 were used. The study was approved by the Research Ethics Committee of the University of São Paulo School of Nursing and the co-participant institution. Results: Data were collected from 88 cases. The majority of the patients were female 73 (83.0%), the average age was 16.4 years, the most common approach for suicide attempts was exogenous drug intoxication 74 (84.1% ), and the most common place for suicide attempts was at home 73 (83%). Psychiatric disorders were found in 36 (40.9%) cases, with depression 28 (31.8%) being the most reported. Previous suicide attempts were mentioned in 34 (39%) and self-mutilation in 22 (25%) of the visits. From the total, 58 (65.9%) had undergone a psychiatric evaluation. The use of violent methods to attempt suicide and the abuse of toxic substances such as alcohol and drugs were associated with male adolescents (p <0.001) and older individuals. Antidepressants were the most abused drugs, being the same ones used by adolescents themselves (p <0.001). The youngest adolescents used family medications as a means of attempting suicide (p <0.001. A total of 43 (48.9%) were discharged from the emergency sector. Regarding the international classification of diseases, 61 (69.3%) of the consultations fell into the group of exogenous intoxications (ICD T.50.9 to T65.9). These were notified 23 (26,1%) of attempting suicide. Conclusion: suicide attempts in adolescents deserve the visibility of the true and potential public health problem they represent. For younger adolescents and for those who remained hospitalized or received psychiatric evaluation at the service, there was greater detail of the risk factors. In recent years there has been an improvement in the notification system. The findings reported here corroborate the literature by pointing out the need to implement improvements, especially in hospital documentation regarding the true notification of cases of attempted suicide.