A identificação com a ciência é um processo de reconhecimento de si como uma pessoa interessada em ciência e que possivelmente aspira por uma carreira científica futura. Tal processo é circunscrito por um conjunto de categorias sociais que delimita quem se reconhece e é reconhecido como sujeito interessado pela ciência. A noção de science identity tem sido empregada de forma produtiva para explorar as experiências de sujeitos de grupos minoritários em relação às ciências da natureza. Entretanto, poucos estudos nessa área têm explorado como a celebração de bons alunos em ciências pode ser um processo mediado por relações institucionais com base na cultura escolar. Essa pesquisa buscou contribuir para essa área ao investigar como o processo de celebração de bons alunos em aulas de química está enraizado em práticas institucionais escolares que variam entre regiões urbanas, entre o centro e a periferia de uma cidade paulista. Com atenção especial às escolas parte do Programa de Ensino Integral (PEI) paulista, nesse estudo, também é investigado como a introdução dessa reforma pedagógica alterou os significados do bom aluno em ciências nas escolas públicas. Com foco sobre as desigualdades e diferenças entre escolas urbanas, esse estudo tem como base a abordagem teórica desenvolvida por Pierre Bourdieu e suas principais ferramentas, com o objetivo de explorar comparativamente as práticas e discursos nas aulas de química, com foco sobre o exercício do poder simbólico de classificação de bons alunos em ciência entre escolas hierarquicamente posicionadas no campo social. Para condução dessa pesquisa, utilizaram-se os princípios da etnografia crítica, com o uso de métodos qualitativos diversos, entre grupos focais com estudantes do ensino médio (N = 12), entrevistas individuais semiestruturadas com estudantes (N = 11), professores de química (N = 5) e administração escolar (N = 3), e observações das aulas de química e rotina escolar (total de 85,5 horas) entre três escolas públicas paulistas. Os resultados desse estudo indicam que o ensino de química é parcialmente influenciado por duas dimensões inter-relacionadas do habitus institucional da escola a reputação da escola e o perfil social dos seus alunos. Estudantes de diferentes escolas tendem a ter oportunidades desiguais de aprendizado e identificação com a química. Por exemplo, em escolas de periferia, os alunos são vistos como tendo deficiências de aprendizado científico e deles é exigido o mínimo de participação nas aulas de química, com atividades de baixa exigência cognitiva, enquanto os alunos da escola no centro da cidade são ensinados sob uma cultura predominante centrada em conquistas acadêmicas, intensa competição e individualidade. Os fatores mencionados acima moldam em grande parte o ensino de química e a celebração dos bons alunos nas três escolas públicas investigadas.

Identification with science is a process of recognizing oneself as a person interested in science and potentially aspiring to a future scientific career. This process is circumscribed by a set of social categories that delineate who recognizes themselves and is recognized as a person interested in science. The notion of science identity has been productively employed to explore the experiences of individuals from minority groups in relation to the natural sciences. However, few studies in this area have explored how the celebration of good science students can be a process mediated by institutional relationships based on school culture. This research aimed to contribute to this field by investigating how the process of celebrating good students in chemistry classes is rooted in institutional practices that vary between urban regions, specifically between the center and the periphery of a city in São Paulo state. With special attention to schools participating in São Paulos Programa de Ensino Integral (PEI), this study also investigated how the introduction of this pedagogical reform altered the meanings of a good science student in public schools. Focusing on inequalities and differences between urban schools, this study is based on the theoretical approach developed by Pierre Bourdieu and its main tools, with the purpose of comparatively exploring practices and discourses in chemistry classes, with a focus on the exercise of the symbolic power of classifying good science students among schools hierarchically positioned in the social field. To conduct this research, the principles of critical ethnography were used, employing various qualitative methods, including focus groups (N = 12) and semi-structured individual interviews with high school students (N = 11), interviews with chemistry teachers (N = 5), and school administrators (N = 3), and observations of chemistry classes and school routines (totaling 85.5 hours) across three public schools in São Paulo. The results of this study indicate that chemistry teaching is partially influenced by two interrelated dimensions of the school's institutional habitusthe school's reputation and the social profile of its students. Students in different schools tend to have unequal opportunities for learning and identification with chemistry. For instance, in peripheral schools, students are seen as having deficiencies in science learning and are required to minimally participate in chemistry classes with low cognitively demanding activities, while students in the city center school are taught under a prevailing culture focused on academic achievements, intense competition, and individualism. The aforementioned factors largely shaped chemistry teaching and the celebration of good students in the three public schools investigated.