Paz é um conceito subjetivo, um projeto ideológico, um processo político e na prática internacional abrange um complexo processo de estabilização e reconstrução social. No entanto, estas são apenas algumas perspectivas de paz. Existem tantas concepções de paz, quando formas de as expressar: o que alguns definem como paz, outros podem ver como opressão ou violência. No final, paz é um conceito em disputa e uma intervenção internacional, com o objetivo de construí-la, não é neutra ou imparcial. Um processo de paz implica a reconfiguração de poder em sociedades pós-conflito, mobilizando narrativas e dispositivos de transformação social. Seu início, com frequência é turbulento, uma vez que um acordo de paz não encerra o conflito, nem dissolve as estruturas engendradas em seu decurso de um momento ao outro. Assim, paz deve ser compreendida como um fenômeno social histórico, holístico e não linear. Em todo lugar, resulta diferente. Esta tese olha para o processo de paz em Timor Leste. Propõe-se comparar as narrativas de paz, adotadas em âmbito internacional, com a de atores locais, de diferentes lugares e posições dentro do conflito social e violência que por mais de 25 anos transformou a paisagem em Timor-Leste (1974-1999). O objetivo geral é produzir uma avaliação localmente informada do processo de paz (diagnóstico), ao considerar como o objetivo de "garantir a paz" foi buscado e que tipo de paz emergiu neste processo. Argumentamos que, ao promover um processo de construção e consolidação da paz em Timor Leste, no âmbito de cinco operações de paz (UNAMET, 1999; INTERFET, 1999-2000; UNTAET, 1999-2002; UNMISET, 2002-2005 e UNMIT, 2006-2012), os atores internacionais e as Nações Unidas, em particular, procuraram influenciar a rede de relações de poder através da qual operavam os atores domésticos, bem como o contexto histórico que estruturou essas relações. Sob uma agenda de estabilização das condições de segurança e a consolidação da autoridade estatal, através de uma estratégia pautada em governança securitária, os agentes deste processo limitaram o espaço político em que múltiplos atores domésticos poderiam deliberar, sem repressão, o desenvolvimento de uma paz positiva e sustentável. No final desta análise, observa-se que, em Timor, persiste uma paz negativa e instável, mantida por figuras carismáticas, lideranças tradicionais e uma polícia militarizada.

Peace is a subjective concept, an ideological project, a political process and in international practice encompasses a complex process of stabilization and social reconstruction. However this is only a prospect of peace. There are as many conceptions of peace as there are ways of expressing them: what some define as peace, others can see as oppression or violence. In the end, peace is a concept in dispute and an international intervention, with the aim of building it, is not neutral or impartial. A peace process involves the reconfiguration of power in postconflict societies, mobilizing narratives and devices of social transformation. Its beginning is often turbulent, since a peace agreement does not end the conflict, nor does it dissolve the structures engendered in their course from one moment to the other. Thus, peace must be understood as a historical, holistic and non-linear social phenomenon. It's different everywhere. This thesis looks at the peace process in Timor Leste. It is proposed to compare the narratives of peace adopted internationally with that of local actors from different places and positions within the social conflict and violence that for more than 25 years transformed the landscape in Timor-Leste (1974-1999). The overall objective is to produce a locally informed assessment of the peace process (diagnosis), considering how the goal of "securing peace" was sought and what kind of peace emerged in this process. We argue that in promoting a peacemaking, peacebuilding and peacekeeping process in East Timor within five peace operations (UNAMET, 1999, INTERFET, 1999-2000, UNTAET, 1999-2002, UNMISET, 2002-2005 and UNMIT, 2006 -2012), international actors and the United Nations in particular sought to influence the network of power relations through which domestic actors operated, as well as the historical context that structured these relations. Under the agenda of stabilizing security conditions and consolidating state authority through a strategy based on security governance, the agents of this process limited the political space in which multiple domestic actors could deliberate, without repression, the development of a positive peace And sustainable. At the end of this analysis, it is observed that in Timor, a negative and unstable peace persists, maintained by charismatic figures, traditional leaderships and a militarized police.