Com base nos estudos de Gourevitch (1997) e Bynum (1980), o presente trabalho tem como objetivo traçar, entre a Visão de Baronto (séc. VII) e a Visão de Túndalo (séc. XII), o desenvolvimento das personagens do chamado gênero literário medieval de viagens pelo porvir. Ao fazê-lo, busca-se sublinhar a não aleatoriedade de tal processo, sobretudo, à luz daquela que é tida historicamente como uma progressiva tentativa de autoexpressão (e.g. literária, heráldica, pictórica) dos indivíduos da Idade Média Central. Neste sentido, propõe-se ao final da tese uma antologia de fontes primárias e suas respectivas traduções, as quais servem de subsídio às nossas análises. São elas: a) a chamada Visão de Curma, ou melhor, o capítulo 12, seção 15, da obra “Sobre o cuidado a ser tido para com os mortos” (De cura pro mortuis gerenda), de Agostinho de Hipona (354 – 430); b) a Visão de Suniulfo (iv.33.1-3) e a Visão de Sálvio (vii.1.1-5), ambas dos Libri Historiarum, de Gregório de Tours (538/9 – 594); c) diversos exempla dos “Diálogos”, de Gregório Magno (c. 540 – 604), atinentes em sua maioria às viagens pelo porvir; d) a supracitada Visão de Baronto, redigida por volta de 678, no âmbito da Gália merovíngia; e) as visões de Máximo, Bonelo e Baldário, todas pertencentes ao monge anacoreta Valério do Bierzo (c. † 695); f) a Visão de Dryhthelm, nome atribuído ao capítulo 12, livro 5, da Historia ecclesiastica gentis anglorum, de Beda (c. 673 – 735)

Based on the studies of Gourevitch (1997) and Bynum (1980), our thesis aims to trace, between the composition of the Vision of Barontus (7th century) and the Vision of Tundal (12th century), the development of the main characters within the so-called Otherworld Journey Literature. In doing so, we try to highlight what we believe is not a fortuitous process, especially considering the progressive means of self-expression (e.g. literary, heraldic, pictorial) from the Central Middle Ages society, period where the sense of belonging to specific social groups would see a growth. Additionally, we provide an anthology of primary sources and their translations, which form the foundation of our analyses. They are the following: a) the so-called "Vision of Curma", namely, chapter 12, section 15, of Augustine's On the care to be had of the dead (De cura pro mortuis gerenda); b) the "Vision of Sunniulf" (iv.33.1-3) and the "Vision of Salvius" (vii.1.1-5), both from the Libri Historiarum, written by Gregory of Tours (538/9 – 594); c) various exempla extracted from the Dialogues of Gregory the Great (c. 540 – 604), most of them about Otherworld journeys; d) the aforementioned "Vision of Barontus", composed around the year 678, in Merovingian Gaul; e) the visions of Maximus, Bonellus and Baldarius, all belonging to the anchorite monk Valerius of Bierzo (c. † 695); f) the "Vision of Dryhthelm", a title given to chapter 12, book 5, of Bede's Historia ecclesiastica gentis anglorum