Esta tese trata do que denominamos cultura política autonomista, aqui identificada enquanto parte da tradição socialista, particularmente a que se refere às correntes antiautoritárias, como os anarquismos, a tradição marxiana e os marxismos heterodoxos com destaque para a primeira. Tensionada entre uma historiografia que prioriza ora as culturas políticas e experiências históricas relacionadas à tradição marxista-leninista ortodoxa, ora as relativas à socialdemocracia, a cultura política autonomista, correntemente, tende a ser preterida ou mesmo negada em sua existência. A partir de uma abordagem calcada nas perspectivas da Nova História Política, esta tese elenca três elementos fundamentais do imaginário e das representações do universo político autonomista: o princípio político do comum, a antifragmentação e a prefiguração. A partir desses referenciais, traça-se uma trajetória de longa duração, atravessando a constituição dessa cultura política, suas atualizações e submersões, bem como seu retorno ao centro da cena política a partir da Revolução do Maio de 1968. Passando, em seguida, pelo anarcopunk, pelo movimento antiglobalização da segunda metade da década de 1990 e desaguando no ciclo de protestos dos anos 2010, verificamos as formas pelas quais o autonomismo tem se expressado e se adequado às conjunturas contemporâneas, com destaque para o Brasil. A tese tem como base empírica dois textos clássicos de Proudhon, além de fanzines e referências do imaginário anarquista, bem como depoimentos de militantes e ex-militantes que atuaram no movimento antiglobalização no Brasil e/ou no ciclo de protestos de Junho de 2013, além, é claro, de dialogar com a bibliografia pertinente

This thesis covers what we call autonomist political culture, which is identified as part of the socialist tradition, particularly the one that refers to anti-authoritarian movements, such as anarchisms, the Marxian tradition, and heterodox Marxisms with emphasis on the first. Tensioned by the historiography that moves between the ones that prioritize political cultures and historical experiences related to the orthodox Marxist-Leninist tradition, and the others related to social democracy, the autonomist political culture currently tends to be overlooked or even denied its existence. From an approach based on the perspectives of New Political History, the thesis lists three fundamental elements of the imaginary and representations of the autonomist political universe: the political principle of the common, anti-fragmentation, and prefiguration. From these references, a long-term trajectory is traced through the constitution of this political culture, its updates and submergences, as well as its return to the center of the political scene after the May Revolution of 1968. We then move on to anarcho-punk, the alter-globalization movement of the second half of the 1990s, and the cycle of protests of the 2010s, to see the ways in which autonomism has been expressed and adapted to contemporary circumstances - especially in Brazil. The thesis has as its empirical basis two classic texts by Proudhon, fanzines and references from the anarchist imaginary, as well as testimonies with militants and ex-militants who were active in the alter-globalization movement in Brazil and/or in the June 2013 cycle of protests, in addition, of course, to establish a dialogue with the relevant bibliography