Esta pesquisa analisa, a partir de imagens, a incidência coletiva da neurose traumática decorrente da escravização da população negra africana e negradescendente no Brasil e do seu legado aterrorizante. Para tanto, foi realizada uma análise da neurose traumática em Freud, onde se observou o impacto da compreensão de um fenômeno social sobre a metapsicologia, e uma busca por imagens que pudessem contribuir com uma leitura dessa experiência a partir da realidade brasileira. Inicialmente, esse processo ocasionou o contato com um conjunto de obras nas quais predominam o olhar do outro sobre o outro, demonstrado através da desumanização da população negra e da espetacularização das violências coloniais que a acometem. Em recusa a essa perspectiva, foi realizada uma nova pesquisa, que teve como critério a inserção de imagens de autoria negra e, ao final, favoreceu a seleção de séries de fotografias do artista brasileiro Eustáquio Neves. O discurso crítico, o compromisso de resgatar a história da população negra no Brasil e a relevância social contribuem para que essas obras sejam interpretadas como (foto)escre(vivências), isto é, um tipo de enquadramento de autoria de profissionais negros que partilha de princípios comuns à escrevivência proposta por Conceição Evaristo. Seguindo a metodologia gonzaleana, a análise das séries Boa aparência (2000), Cartas ao mar (2015) e Outros navios (2022) possibilitou a associação com as três dimensões do trauma psíquico: o choque violento, a separação e a atemporalidade, respectivamente. Como resultado, constatou-se a reatualização da experiência traumática em meio às circunstâncias de vida de homens negros; a separação como um tipo de morte; e a (foto)escre(vivência) como um meio de elaboração psíquica, vista notadamente na passagem do apagamento de pessoas negras para a produção de ausências nas imagens. Diante disso, além de denunciar a continuidade de violências análogas às do período escravagista e as suas repercussões psíquicas, a investigação realizada pode fomentar discussões na psicologia e na psicanálise, o que é fundamental, diante do atraso histórico desses campos no que diz respeito ao estudo das relações étnico-raciais no Brasil.

This research analyzes, through images, the collective incidence of traumatic neurosis resulting from the enslavement of the black African and black-descendant population in Brazil and its terrifying legacy. For this purpose, an analysis of traumatic neurosis in Freud was carried out, observing the impact of the reading of a social phenomenon on metapsychology, and a search for images that could contribute to an understanding of this experience from the Brazilian reality. Initially, this process led to contact with a set of works in which the gaze of the "other on the other" predominates, demonstrated through the dehumanization of the black population and the spectacularization of the violence that affects them. In refusal to accept this perspective, a new study was conducted, using as a criterion the inclusion of images by black authors and, in the end, favoring the selection of a series of photographs by the Brazilian artist Eustáquio Neves. The critical discourse, the commitment to recovering the history of the black population in Brazil, and the social relevance contribute to these works being interpreted as "(foto)escre(vivência)", that is, a framing authored by black professionals that shares common principles with the "escrevivência" proposed by Conceição Evaristo. Following the Gonzalean methodology, the analysis of the series Good looking (2000), Letters to the Sea (2015), and Other ships (2022) made it possible to associate them with the three dimensions of psychic trauma: violent shock, separation, and timelessness, respectively. As a result, it was possible to see the re-actualization of the traumatic experience amidst the life circumstances of black men, separation as a kind of death, and "(foto)escre(vivência)" as a means of psychic elaboration, seen notably in the shift from the erasure of black people to the production of absences in the images. Therefore, in addition to denouncing the perpetration of violence analogous to that of the slavery period and its psychic repercussions, this research can encourage discussions in the fields of psychology and psychoanalysis, which is fundamental given the historical backwardness of these fields of research about the study of ethnic-racial relations in Brazil.