Esse estudo reúne três vertentes teóricas: a Psicologia Positiva, a Psicologia da Religião e a Psicologia Islâmica. A Psicologia Positiva pesquisa os elementos responsáveis pelo funcionamento positivo do ser humano, pelo bem-estar e pela felicidade. Um de seus modelos mais representativos é o PERMA, um acrônimo proposto por Martin Seligman, formado por cinco elementos: emoções positivas, engajamento, relacionamentos, sentido e realização. Muitos desses elementos podem também ser influenciados pela religiosidade e pela espiritualidade, levando a Psicologia da Religião a investigar como a fé e as práticas espirituais influenciam o bem-estar. Para isso, no entanto, é preciso um conhecimento prévio e profundo das especificidades de cada religião, como no caso do Islam. Essa é a proposta da Psicologia Islâmica, uma epistemologia decolonial emergente baseada na religião islâmica que investiga o funcionamento psicológico a partir das crenças e do estilo de vida dos muçulmanos, tendo como bases os ensinamentos do Alcorão e da Sunna. Diante da relevância e amplitude do tema, este estudo tem por objetivo analisar os ensinamentos orientados para a felicidade e/ou o bem-estar no Islam e investigar a sua relação com a religiosidade e espiritualidade, traçando um paralelo entre a Psicologia Islâmica e a Psicologia Positiva. Trata-se de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa. Participaram cinco sheiks sunitas que residem no Brasil há pelo menos 15 anos, e um tradutor do Alcorão em língua portuguesa. A coleta de dados foi organizada em duas etapas, sendo a primeira, por meio da solicitação, aos interlocutores, do preenchimento de um formulário que continha palavras que representam elementos do modelo PERMA e as forças de caráter, a fim de que eles preenchessem, segundo sua livre escolha, com versículos do Alcorão que tivessem relação com essas temáticas. Na segunda etapa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com duração entre 60 a 120 minutos, acerca de temas relacionados ao bem-estar e à felicidade, do ponto de vista islâmico. As entrevistas foram realizadas por meio de uma plataforma on-line, audiogravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra pela pesquisadora. Os dados foram identificados e interpretados fazendo-se uma comparação entre os conceitos de felicidade e bem-estar seculares e religiosos. Os resultados mostram que o conceito de religiosidade/espiritualidade, felicidade e bem-estar no Islam estão intimamente ligados. A crença em uma felicidade na vida após a morte configura-se como um motivador intrínseco que incentiva o monitoramento do sujeito sobre suas ações na vida mundana, e a crença em um julgamento final é uma fonte de conforto diante das adversidades e desafios da vida. A perspectiva de uma recompensa na vida após a morte influencia as decisões do sujeito sobre a forma de agir no mundo. Os versículos do Alcorão também demonstram um claro incentivo à prática de virtudes tanto individual quanto socialmente. Tais condutas são parte fundamental da fé que reforçam valores religiosos, a conexão com Deus e com outros indivíduos em uma relação recíproca onde crenças, práticas e ensinamentos religiosos se interrelacionam com aspectos do bem-estar. Esses resultados ampliam o arcabouço teórico da Psicologia Islâmica, da Psicologia da Religião e da Psicologia Positiva que tem, como uma de suas metas investigar a felicidade e o bem-estar sob perspectivas não ocidentais.

This study brings together three theoretical strands: Positive Psychology, the Psychology of Religion and Islamic Psychology. Positive Psychology researches the elements responsible for the positive functioning of human beings, well-being and happiness. One of its most representative models is PERMA, an acronym proposed by Martin Seligman, formed by five elements: positive emotions, engagement, relationships, meaning and achievement. Many of these elements can also be influenced by religiosity and spirituality, leading the Psychology of Religion to investigate how faith and spiritual practices influence well-being. To do this, however, prior and in-depth knowledge of the specificities of each religion is necessary, as is the case with Islam. This is the proposal of Islamic Psychology, an emerging decolonial epistemology based on the Islamic religion that investigates psychological functioning based on the beliefs and lifestyle of Muslims, based on the teachings of the Quran and the Sunna. Given the relevance and breadth of the topic, this study aims to analyze the teachings oriented towards happiness and/or well-being in Islam and investigate their relationship with religiosity and spirituality, drawing a parallel between Islamic Psychology and Positive Psychology. This is an exploratory study, with a qualitative approach. Participants were five Sunni sheikhs who have lived in Brazil for at least 15 years, and a translator of the Quran in Portuguese. Data collection was organized in two stages, the first being by asking interlocutors to fill out a form that contained words that represent elements of the PERMA model and character strengths, in order for them to complete, according to your free choice, with verses from the Quran that were related to these themes. In the second stage, semi-structured interviews were carried out, lasting between 60 and 120 minutes, on topics related to well-being and happiness, from an Islamic point of view. The interviews were carried out via an online platform, audio-recorded and later transcribed in full by the researcher. The data was identified and interpreted by making a comparison between secular and religious concepts of happiness and well-being. The results show that the concept of religiosity/spirituality, happiness and well-being in Islam are closely linked. The belief in happiness in the afterlife is an intrinsic motivator that encourages the subject to monitor their actions in worldly life, and the belief in a final judgment is a source of comfort in the face of life's adversities and challenges. The prospect of a reward in the afterlife influences the subject's decisions about how to act in the world. The verses of the Quran also demonstrate a clear encouragement to practice virtues both individually and socially. Such behaviors are a fundamental part of faith that reinforce religious values, the connection with God and with other individuals in a reciprocal relationship where religious beliefs, practices and teachings interrelate with aspects of well-being. These results expand the theoretical framework of Islamic Psychology, the Psychology of Religion and Positive Psychology, which has, as one of its goals, investigating happiness and well-being from non-Western perspectives.