Este estudo teve como objetivo investigar a comunicação com outrem, em especial entre terapeuta e paciente, enquanto potência transformadora de uma vida, à luz da fenomenologia de Merleau-Ponty. Uma leitura fenomenológica da comunicação, em especial na clínica psicanalítica, implica em estudar a linguagem, a relação com o outro, com o passado e com a memória em sua facticidade, recolocadas no mundo vivido, na existência. Para isso, foi realizado um estudo teórico, dividido em três artigos, a fim de descrever os fenômenos e destacar a sua dinâmica. No primeiro artigo, tratamos da noção de expressão em Merleau-Ponty. Apresentamos o corpo enquanto potência expressiva e a linguagem como expressão de um sujeito falante que articula o caráter gestual da palavra e o sistema diacrítico da língua, assumindo-a ao mesmo tempo em que ela forma a sua possibilidade de expressão. No segundo artigo, a partir das noções de passividade e instituição, buscamos descrever como o corpo carrega o passado, a memória e as relações de uma vida, e que a significação nunca é fechada, comportando lacunas, ambiguidades e excessos em relação àquilo que é dado à consciência, o que abre a percepção a seu próprio devir e torna possível pensar na retomada dos emblemas de uma vida, a fim de abrir novos campos de experiência possível. No terceiro artigo, a partir das noções de intercorporeidade e inconsciente, buscamos mostrar que a experiência de outrem se apoia primordialmente na experiência sensível, que possui uma negatividade que participa da estrutura perceptiva do mundo. Conjuntamente, apresentamos a interpretação merleau-pontiana de inconsciente enquanto sentir, evidenciando o seu papel nessa estrutura perceptiva, configurando, assim, a nossa experiência. Por fim, buscamos, a partir do aprofundamento de ideias debatidas anteriormente nos artigos, enfatizar a experiência de transformação propiciada por um caso particular de comunicação com outrem: a clínica psicanalítica. Nele destacamos o caráter afetivo dessa relação, articulando a interpretação merleau-pontiana de inconsciente à intercorporeidade e à fala para pensar o movimento de uma vida no campo analítico. Dessa forma, mais do que possibilitar uma compreensão, a relação e a comunicação que se desenrola no campo analítico é de ordem corporal, possibilitando uma experiência que pode recolocar em movimento uma vida em busca de novas relações com o mundo e os outros.

This study aimed to investigate communication with others, especially between therapist and patient, as a transformative force in life, in light of Merleau-Ponty's phenomenology. A phenomenological reading of communication, particularly in psychoanalytic clinic, involves studying language, the relationship with others, with the past and with memory in their factualness, situated in lived experience, in existence. To do this, a theoretical study was conducted, divided into three articles, to describe the phenomena and highlight their dynamics. In the first article, we addressed the notion of expression in Merleau-Ponty. We presented the body as an expressive power and language as the expression of a speaking subject that articulates the gestural character of words and the diacritical system of language, assuming it at the same time that it forms its possibility of expression. In the second article, based on the notions of passivity and institution, we sought to describe how the body passively carries the past, the memory, and the relationships of a life, yet meaning is never closed, containing gaps, ambiguities, and excesses concerning what is given to consciousness, opening perception to its own becoming and making it possible to think about the resumption of the emblems of a life, in order to open new fields of possible experience. In the third article, based on the notions of intercorporeality and unconscious, we aimed to show that the experience of others primarily relies on sensible experience, which has a negativity that participates in the perceptual structure of the world. Simultaneously, we presented Merleau-Ponty's interpretation of the unconscious as feeling, highlighting its role in this perceptual structure, thus configuring our experience. Finally, building upon ideas discussed earlier in the articles, we emphasized the transformative experience provided by a particular case of communication with others: psychoanalytic clinical practice. We highlighted the affective character of this relationship, articulating Merleau-Ponty's interpretation of the unconscious with intercorporeality and speech to consider the movement of a life in the analytic field. Thus, more than enabling understanding, the relationship and communication unfolding in the analytic field is bodily in nature, enabling an experience that can set a life back in motion in search of new relationships with the world and others.